Literatura mocambicana 3 1

Periodização da Literatura Moçambicana de Expressão Portuguesa

  • "O pescador de Moçambique" de José Pedro da Silva Campos e Oliveira

    "O pescador de Moçambique" de José Pedro da Silva Campos e Oliveira
    Esta coletânea de poemas foi uma das primeiras tentativas, ainda que tímidas, de dar expressão literária ao real moçambicano e, nessa perspectiva, pode aludir-se a Campos de Oliveira, poeta de origem e vivência moçambicana (nascido na ilha de Moçambique em 1847), o qual, pelo menos com o poema “O Pescador de Moçambique” insere um discurso de protesto no espaço colonial e cuja motivação anda à volta da diferença racial.
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    1º Período (Insipiência)

    Esta primeira fase da literatura moçambicana de expressão portuguesa inicia-se com a permanência dos portugueses até 1924. Diz-se período de insipiência devido à aparente inexistência de produção literária, cenário que se modifica com a introdução do prelo (antigo material tipográfico, para impressão de textos) no ano de 1854. Neste período, sobressaem os textos de Campos Oliveira.
  • "O livro da dor" de João dos Santos Albasini

    "O livro da dor" de João dos Santos Albasini
    "O livro da dor" de João Albasini é um volume de crónicas e reflexões, de cariz intimista e amoroso, publicado pela primera vez no semanário "O Brado Africano" (1918) postumamente, por alguém da família do jornalista. Porém, essa "dor" expressada na sua obra era a de um homem de um tempo e lugar marcados com o ferrete do preconceito racial, da sobranceria de uma enganosa gesta “civilizadora” e de todas as injustiças e usurpações que testemunhava na sua terra,
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    2º Período (Prelúdio)

    Esta segunda fase vai desde a publicação de "O livro da dor" até ao fim da II Guerra Mundial, incluindo, além do livro do jornalista João Albasini, os poemas dispersos, nos anos de 1930, de Rui de Noronha, depois publicados sob o título de "Sonetos" (1946), por ser o género mais cultivado por ele.
  • "Sonetos" de Rui de Noronha

    "Sonetos" de Rui de Noronha
    Na coletânea de Rui de Noronha, poeta de transição, pode ver-se a sua clara intenção e consciencialização da necessidade de moçambicanizar os modelos estéticos tradicionais portugueses: incorpora, assim, palavras e expressões próprias de Moçambique. Em muitos dos seus textos encontramos uma espécie de simbiose entre a oratura (forma oral de transmissão de conhecimentos) e a escrita , numa tentativa de exigir a reabilitação nacional.
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    3º Período (Formação)

    Caracteriza pela intensa formação da literatura moçambicana, pois instala-se uma consciência grupal no seio dos escritores, tocados pelo Neo-realismo que já se fazia sentir em Portugal e pela Negritude. Assim, sobressaem o jornal cultural "Msaho" (1952); a publicação de textos poéticos em antologias como "Poesia em Moçambique" (1951), organizada por Luís Polanah; e autores como José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Nogar, Rui Knopfli, Virgílio de Lemos e Rui Guerra, entre outros.
  • "Sangue negro" de Noémia de Sousa

    "Sangue negro" de Noémia de Sousa
    "Sangue negro" é uma coletânea de poemas que obteve uma reedição em 2011 pela editora Marimbique, com o objetivo de resgatar a obra poética e de luta da autora. Os poemas de Noémia permitem refletir sobre o desencanto cotidiano relacionado à amargura de cinco séculos de colonização. A poesia de Noêmia não tem como objetivo a representação de uma identidade e sim a representação de uma nação.
  • "Msaho" de Virgílio de Lemos

    "Msaho" de Virgílio de Lemos
    Tratava-se de um jornal que apesar de ter sido publicado apenas uma edição, foi crucial na luta anticolonialista em Moçambique. Dentre seus editores, destaca-se o poeta Virgílio de Lemos. Neste contexto, foi um projeto cultural e político que convergeu para a construção de uma literatura própria e representativa de Moçambique, de maneira a traçar os caminhos através do diálogo com os movimentos artísticos externos e, ao mesmo tempo, um mergulho na tradição.
  • "O Brado Africano" dos irmãos Santos Albasini

    "O Brado Africano" dos irmãos Santos Albasini
    Foi um dos jornais mais marcantes e decisivos na verdadeira divulgação da poesia moçambicana (1955-58). Neste contexto, o amor, a denúncia, a fraternidade, a exaltação, o sofrimento, o mito, a história e a rebeldia encerram em si o grande campo semântico que caracterizava a poesia publicada n' O Brado Africano, evidenciando, assim, o objetivo principal definido por este periódico - apresentar a denúncia possível num tempo, numa época histórica incómoda.
  • “Xigubo” de José Craveirinha

    “Xigubo” de José Craveirinha
    Em Lisboa, a primeira obra a surgir foi "Xigubo" , em 1964, através da Casa dos Estudantes do Império. A partir de determinada altura, a consciência política do autor passou a reflectir-se em obras como "O Grito" e "O Tambor". Contudo, apesar de a sua obra reflectir a influência dos surrealistas, é fortemente marcada por todo um carácter popular e tipicamente moçambicano. A sua poesia possui um carácter social que radica nas camadas mais profundas do povo moçambicano.
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    4º Período (Desenvolvimento)

    Esta fase situa-se entre o início da luta armada de libertação nacional e a independência do país e se caracteriza pela coexistência de uma intensa atividade cultural e literária, apresentando textos de cariz marcadamente político e que tematizavam este conflito. Entre eles situam-se “Portagem” (1966), de Orlando Mendes, os três números da revista “Caliban” (1971) e o poemario "Karingana ua karingana", de José Craveirinha, escrito em 1945, entre outros.
  • "Portagem" de Orlando Mendes

    "Portagem" de Orlando Mendes
    Este romance do moçambicano Orlando Mendes, evidencia as relações juntamente ao contexto histórico-social em que a obra é criada: o colonialismo português. Através de um panorama opressivo e dominador, o romance salienta os dramas humanos de toda uma nação centralizados na personagem central do romance, o mulato clandestino João Xilim, em que a grande inadaptabilidade do herói, num ambiente cercado pelo medo e pela insegurança, é exposta.
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    5º Período (Consolidação)

    Esta fase consolida a autonomia e extensão da literatura moçambicana, contra todas as reticências. Após a independência assistiu-se à redivulgação de textos como "Silêncio escancarado" de Rui Nogar. Também, temos de considerar a atividade poética de Rui Knopfli e Mia Couto, entre outros, junto com a da revista "Charrua" que abriram novas perspetivas fora da literatura empenhada para com a livre criatividade da palavra, a abordagem de temas tabus e mistura de culturas.
  • Revista "Charrua"

    Revista "Charrua"
    "Charrua" foi uma revista literária moçambicana publicada por iniciativa da Associação dos Escritores Moçambicanos que deu nome ao movimento literário que reuniu autores ativos ao longo da década de 1980, rompendo, assim, com a literatura pós-independência, para propor a experimentação formal e a reapropriação da língua portuguesa. Ao longo das suas oito edições (1984-86) lançou escritores como Ungulani Ba Ka Khosa, Armando Artur, Juvenal Bucuane, Pedro Chissano e Carlos Paradona.
  • "Terra sonâmbula" de Mia Couto

    "Terra sonâmbula" de Mia Couto
    A publicação de "Terra sonâmbula" (1992) de Mia Couto, o seu primeiro romance, coincidente com a abertura política do regime, pode considerar-se provisoriamente o final deste período de pós-independência.
    No ambito literário é considerada uma das melhores obras africanas do século XX. O título da obra faz referência à instabilidade do país e, portanto, à falta de descanso da terra que permanece “sonâmbula”; assim, a realidade e o sonho são dois elementos fundamentais na narrativa.